domingo, 29 de novembro de 2015

Ensaio sobre a velhice...



Quando eu tinha 10 anos, aluna na escola alemã em Friburgo, o diretor da escola, pastor luterano de nome Johannes Schlupp, fez 50 anos. Houve uma grande festa na escola, as turmas apresentaram jograis, corinhos e teatrinhos em homenagem ao Seu Pastor (ele era chamado assim pelos alunos). Como eu e meu irmão tocávamos instrumentos musicais, fizemos um dueto e homenageamos o Seu Pastor no palco. Bem, eu estava achando o máximo, porque eu tinha certeza de que o Seu Pastor, com 50 anos, estava à beira da morte, e como ele era uma pessoa bacana, eu estava lhe prestando uma homenagem, quase póstuma. Nas semanas e nos meses que se seguiram, o Seu Pastor continuou indo para a escola, e aí eu devo ter percebido que 50 anos não é o fim da linha...

Cinco anos depois, eu já com 15 anos, meu avô morreu aos 70. Morreu no meio de uma aula particular, na casa de um aluno. Bem, eu pensei, 70 anos, já viveu bem, tem netos grandes, trabalhou até o final, não adoeceu, teve lá as suas alegrias. achei que 70 anos era uma idade justa para se morrer.

O tempo foi passando e quando fiz 50 anos, eu estava muito bem, sem jamais esquecer a história do Seu Pastor, coitado, que sobreviveu, pelo menos, mais 30 anos depois do fato. Quanto aos 70, já percebi que não é o fim da linha, embora eu ainda não tenha chegado a esta idade...

O que quero dizer com esse Ensaio sobre a velhice, é que a velhice está sempre longe de nós. Conforme o tempo vai passando, a linha da velhice vai se deslocando, assim como a linha do horizonte para quem viaja de navio.

Tudo isso para contar que, antes que o tempo passe e enquanto sou eternamente jovem, comecei meu curso de desenho e pintura...